Os taxistas de Manhattan e da zona Sul carioca


Assistindo de passagem a um episódio repetidíssimo de Sex and the City, vi a personagem Miranda na cama com seu companheiro, Steve. Ela lia um livro e ele procurava nos classificados um novo lugar para morarem tendo em vista a chegada do filho dos dois. "Sala de jantar, salão de visitas, lavanderia, 3 quartos, jardim..." Steve não consegue ler o anúncio até o final sendo interrompido por Miranda que logo se anima: "É nosso! É nosso! Onde? Onde?". Era no Brooklyn, para desânimo total de Miranda.
Aqui vale uma pequena descrição de quem é Miranda: advogada formada por Harvard, ela é uma workaholic que tem o orgulho de ter sido a primeira das amigas a comprar seu apartamento em Manhattan.
Aqui vale outra explicação de como Nova York é dividida. Há cinco bairros (The Five Boroughs), mas não devemos entender como um bairro do Rio, por exemplo, e sim, uma região como Jacarepaguá e Barra da Tijuca tudo junto. São eles Manhattan, Brooklyn, Queens, the Bronx e Staten Island. Para quem perguntou, o Harlem é uma vizinhança de Manhattan. Isto posto, continuemos com Miranda.
No dia seguinte, ela se anima um pouco e resolve ir ver a tal casa no Brooklyn, uma townhouse. Entra no táxi e pede ao chofer que a leve ao Brooklyn. Resposta do moço que dirige seu amarelinho (mais escuro um pouco que os nossos) pelas ruas de Manhattan: "Eu não vou ao Brooklyn!". "Nem eu.", diz Miranda resignada e já saindo do táxi. Corta! Vamos ao Rio de Janeiro.
Os taxistas que rodam pela zona Sul carioca devem se achar em Manhattan. Felizmente ainda não chegou o dia em que uma dessas criaturas irá responder ao passageiro embarcado em Ipanema: "Eu não vou ao Grajaú!" Mas o pobre infeliz que morar na zona Norte e tiver a necessidade de estar na zona Sul por algum motivo ao tentar voltar para casa ouvirá sempre as seguintes frases com pequenas variações:
  1. Puxa, depois que deixar o senhor lá vou ter que voltar pra Ipanema vazio.
  2. O senhor me explica o caminho? Não sei andar direito na zona Norte...
  3. Não é em morro (favela) não, né amigo?
  4. Caramba! Como é escuro e sem polícia por aqui...
Só para ficar nesses quatro exemplos, eu costumo sempre rabater de bate pronto conforme abaixo:
  1. Porque? O senhor acha que ninguém pega táxi na ZN?
  2. O senhor mora na Vieira Souto ou Delfim Moreira?
  3. Igual a Rocinha, Vidigal e Dona Marta? Não, não é não. É até um morro. Mas um morro bonito. Uma reserva florestal. A Reserva Florestal do Grajaú. O senhor nunca ouviu falar, né?
  4. O governador e o prefeito não moram por aqui.
Para a pergunta nº2, eu poderia ainda esculachar o sujeito dizendo que quem não tem competência que não se estabeleça, ora bolas! O taxista de Londres é considerado o melhor profissonal do mundo justamente por que conhece cada buraco daquela enorme capital de mais de 2000 anos de existência. Lá, o exame que lhe dá o direito de dirigir táxi, tem perguntas do tipo (fazendo uma analogia com a nossa "maravilhosa" cidade): "É quarta-feira, dia de final no Maracanã e são 20hs. Trace o melhor (mais rápido) trajeto do Centro a Tijuca, tendo que passar por Vila Isabel antes." O sujeito tem X segundos para pensar e colocar no papel.
E como seria aqui na terra de César Maia, Serginho, Garotinho e outros "líderes"? Compra-se uma "autonomia" de uma viúva endividada. E então o que mais vemos são ex-gerentes de multinacionais, muito educados, mas que não sabem dar a volta no quarteirão. Rapazes muito novos que não querem nada com estudo, mas que, num trajeto Jacarepaguá ao Grajaú, perguntam se a melhor forma de se voltar a Ilha do Governador e subindo a Menezes Cortes de novo. E por aí vai...
A pretesão e a empáfia de grande maioria das pessoas que moram e circulam pela ZS de nossa cidade é tão grande que quase chega aos pés dos novaiorquinos de Manhattan. Obviamente, na grana os gringos ganham de goleada. Muita gente boa que mora em Ipanema e Leblon, come badejo e arrota caviar, talvez não tenha dinheiro para alugar um muquifo em Manhattan.
Para concluir, uma frase que adoro: "O Rio não é uma cidade maravilhosa. É apenas uma cenário maravilhoso para uma cidade." Elizabeth Bishop (1911-1979), poetisa inglesa.

Comentários

Gleyce disse…
Eu acho que para quem mora em Santa Teresa ainda é pior...
Quando saio é sempre o mesmo stress pra voltar. Quantas vezes já tive que sair do taxi pra nao me estressar e quantas outras fui solicitada para me retirar do taxi...que raiva!
Aí qdo vc finalmente encontra uma bendita alma que te leve lá em cima, comeca a reclamacao que a rua é esburacada (como se todas as outras ruas do RJ fossem um tapete), que em Sta Teresa tem assalto (claro, só lá tem assalto) e que o trilho do bonde corta pneu. Até hoje nunca fiquei sabendo de alguém que tenha furado o pneu lá.
Xandão disse…
Gleyce, vc foi direto ao ponto: todas as coisas ruins da cidade só acontecem no quinta alheio. Assalto tem do Leblon a Comendador Soares, ora! Eu procuro sempre ver os dois lados de todos os lados, hehe. Beijos. Volte sempre!
Anônimo disse…
Xandão,

O que me mata é quando entramos em um táxi e eles não aceitam corridas pequenas.. Ou quando queremos ficar calados e os caras querem conversar... Deveria ter um vidro separando..

abçs.

Alexander

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