Estou desnorteado...

Hotel Copacabana Palace, fundado em 1923 por Octávio Guinle
Todo mundo que anda de táxi conhece a capacidade quase ilimitada dos taxistas para contar histórias. Quem nunca os ouviu falando de meninas querendo pagar a corrida com sexo? Ou viciados que pedem para subir em favela? Nesse sábado, eu ouvi uma das melhores, se não a melhor, e das mais misteriosas. Vou tentar transformar a história num pequeno conto que segue abaixo.
Janeth é uma morena baixinha de cabelos compridos e nariz fino. Tem 40 anos mas todos dizem que ela parece ter bem menos. Viúva, mãe de 3 filhos, mora com seus pais e os meninos em uma casa na Vila da Penha. Nunca havia trabalhado em sua vida. Sustentada primeiro pelo pai sargento do Corpo de Bombeiros e depois pelo marido, também bombeiro, Janeth se viu com uma autonomia de táxi na mão após a morte de seu marido em um incêndio em Coelho Neto. Jurandyr era bombeiro mas tinha o táxi para reforçar o orçamento da casa. Janeth logo tomou gosto pela profissão e fazia ponto no Santos Dumont. Seu carro era uma Fiat Doblo.
Numa sexta-feira a noite, dia de intenso movimento de chegada ao aeroporto, Janeth teve que furar a fila, pois a bagagem de um dos passageiros demandava um carro grande. A mala era de "marca boa" e devia medir uns 2X1 metros. Ela começou a achar estranho quando dois rapazes que trabalham na área como carregadores de mala se juntaram para colocar a bagagem no porta-malas do carro e não havia peso algum dentro dela. Era somente o volume. Quando Janeth assumiu o volante, o passageiro já estava lá: alto, quarentão, cabelos grisalhos, roupa e perfume "dos bons".
- É para onde, senhor?
Ele vira-se para ela, e com olhar perdido diz:
- Estou desnorteado...
É hoje, pensou Janeth. Para não atrapalhar a fila de táxis, ela avança e para um pouco mais a frente.
- Para onde o senhor quer ir, meu amigo?
- Estou desnorteado...
- Olha, eu vou pegar o Aterro, pois acho que o senhor vai pra Zona Sul, tá?
- Estou desnorteado...
Janeth desliza deu Doblo lentamente pelas pistas do Aterro e o passageiro em completo silêncio apenas admira a paisagem pela janela. Depois de passar pelo Túnel Novo, já saindo da Princesa Isabel e entrando na Atlântica, Janeth avista um carro da polícia e para bem ao lado, como uma maneira de pressionar o sujeito a dizer para onde iria afinal de contas.
- Meu amigo: a agente já veio do aeroporto até aqui em Copacabana e o senhor não me diz pra onde quer ir. Assim eu vou ser obrigada a lhe deixar aqui com esses policiais para o senhor se recuperar.
Nisso, o sujeito que continuava a admirar a paisagem externa, vira o rosto lentamente na direção dela e finalmente muda o disco:
- Me leva para o hotel mais caro daqui, onde tenha a suíte mais cara, o caviar mais caro e o champagne mais caro.
"Ah finalmente!".
Tocou para o Copacabana Palace, hotel de reis, presidentes e astros do Rock. Lá chegando, o passageiro desnorteado salta do carro, dirige-se ao porteiro do Copa e pergunta:
- Aqui é o hotel mais caro dessa cidade? Aqui tem o caviar e o champagne mais caro dessa cidade?
O porteiro sem nada entender e surpreso, só consegue responder que sim, lá dentro ele iria encontrar tudo do bom e do melhor. Bastava lhe acompanhar até a recepção.
A corrida do Santos Dumont até o Copa deu R$ 16,00 e foi paga com uma nota de R$ 100,00, tirada de um maço onde havia muito mais da mesma. O sujeito pagou a corrida e nem esperou pelo troco, adentrando o hotel na companhia do porteiro e de sua enorme mala. Janeth esperou o porteiro voltar e disse:
- Semana que vem eu passo aqui para saber como acabou essa história.
E os dois riram muito.
Não sei se Janeth voltou lá. Nem sei se esse era seu nome. Todo o perfil de Janeth foi criado pelo autor desse blog. E francamente, nem sei se a história é verdadeira. Mas que é boa, é.

Comentários

Olá amigo Xandão vim lhe visitar e lhe deixar estas palavras:
Do mesmo modo que no início da primavera todas as folhas têm a mesma cor e quase a mesma forma, nós também, na nossa tenra infância, somos todos semelhantes e, portanto, perfeitamente harmonizados.
Abraços forte
Unknown disse…
Que história bem CONTADA, einh !
Parabéns.
Bjs, Vv.

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