Escolheu o domingo para arruinar o almoço em família.

Nesse domingo, após saborear a conquista do campeonato de F1 por Jenson Button (Não, não sou inglês. Apenas não torço para quem não merece!), fui fazer um agrado ao meu estômago e livra-lo de mais uma sessão de ovos mexidos com presunto, vitamina de banana com aveia e outras enganações em tempos de desemprego e casa vazia. Para isso escolhi o restaurante familiar do bairro que atende pelo nome de Dom Manuel.
Buffet a quilo na hora do almoço, com churrasco na brasa, além dos pratos a la carte e um chope Brahma muito bem tirado, associado ao bom atendimento de todos os meninos que conhecem a mim e a minha família há séculos, me levou a esse porto seguro.
Entre tiras de picanha mal passada, linguiça, tomate (Licopeno! Essa é a palavra chave para evitar câncer de próstrata) e o jogo do Mengão derrotando o verdinho lá dentro do Parque Antártica, coloquei-me a observar a fauna local. Foi impressionante notar que em três mesas com famílias reunidas, o chefe (?) se dedicava com afinco a arruinar o encontro familiar.
Antes de chegar à mesa 1, em pé ainda, na frente de todos e sem o menos pudor, Huguinho discutia com sua pobre esposa sobre ficar na varanda ou na parte de dentro. Seus gestos eram exageradamente desagradáveis e cabotinos. Sua voz ia gradativamente alcançando volume que fariam inveja ao saudoso Pavarotti. Quando finalmente sentam-se a mesa, a esposa tem o olhar dominado pela vergonha. Finjo que não noto, olho para a TV e reclamo de mais um gol perdido pelo Imperador. Ao chegar a comida (arroz a piemontese, fritas e uma tigela cheia de bifes), Huguinho reclama de algo na carne que imediatamente é levada de volta pelo garçom, para desepero das duas filhas que logo atacam todo o carboidrato presente.
Na mesa 2, Zezinho, sua senhora e a filha de uns 14 anos apenas bebem. Os adultos, chope e a adolescente um refrigerante. Zezinho já está mais prá lá do que prá cá e consegue a façanha de pedir mais chopes que eu. Provavelmente bebia desde cedo com os amigos. Quando não bebe, passa o tempo curvado de forma acintosa em direção a filha, dedo em riste a repreender-lhe qualquer besteira. Isso leva pelo menos umas duas horas. A mãe limita-se a beber seu chope, olhar pra cima, pros lados e a contrair os lábios, como que a impedir qualquer fala de sair. A garota está com a cabeça amparada pelo braço esquerdo e seus olhos e nariz mais vermelhos que a bandeira do América F.C. em dia de estréia na segundona.
Na mesa 3, Luisinho está acompanhado da mulher, uma outra mulher da mesma idade que pode ser irmã ou cunhada e três filhos de idades variando do colo à adolescência. Mas os principais habitantes da mesa eram o aparelho de telefone celular de Luisinho e seu desassossego. Luisinho não falava uma palavra com seus familiares e nem poderia, pois o telefone o consumia por todo. Às vezes, devido a confidencialidade da conversa, levantava e ia a rua, onde se demorava bastante. Na volta, cumprimentava e era cumprimentado de forma corriqueira por algumas pessoas. Ao garçom, somente ordenava vir suas caipirinhas. A esposa ficou sem resposta sobre o que Luisinho queria almoçar. Pediu qualquer coisa assim mesmo. Luisinho, é claro, beliscou aqui e ali.
Eu, por minha vez, estava muito bem acompanhado pela picanha, pelo chope e pela vontade louca de colocar isso tudo logo no blog. Um excelente domingo em família.

Comentários

Unknown disse…
Que Cronista, einh !!!

Tem concurso por aí ... fica ligado !!

Bjs, Vv.
Unknown disse…
Xandão,

Olha pelo lado bom: você agora tem várias opções para postagem "just in time". Não precisa mais esperar para poder postar. Rs...

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