Cenas de Copacabana

Almir Pernambuquinho sendo contido na famosa pancadaria de 1966.

Almir Pernambuquinho (esq.) com seu companheiro de ataque Silva Batuta.

Ligeirinho (Speedy Gonzalez), o rato mais rápido de todo o México.

Alguém certa vez já falou que Copacabana é o maior circo a céu aberto do mundo. Já um americano uma vez me disse que Copa foi o lugar mais parecido com Nova York que ele conheceu fora dos EUA. Sendo uma coisa ou outra, é certo que vemos de tudo por lá e nessa noite de sexta não foi diferente.

Após uma travessia exasperadora da Barra para o metrô Siqueira Campos que levou quase duas horas, recusei-me a entrar num trem cheio e adiei a volta à casa indo ao Cervantes, um dos meus portos seguros. Chegando lá, nenhuma surpresa. O atendimento rápido e atencioso do Pedro, um belo sanduíche de filé mal passado com queijo e alho torrado, além de diversos chopes no creme tirados pelo Marrom. Muito show.

Como estava passando um jogo da Portuguesa na TV, tentei contar uma piada ao Pedro quando fui interrompido por um bêbado chato de plantão que mal conseguia falar. Me olhou de cima abaixo, talvez abismado com o terno numa noite calorenta, balbuciou alguma coisa e se retirou. Finalmente contei a piada. Paguei a conta e aí sim me dirigi ao metrô para ir embora.

Parado na entrada da estação Cantagalo, falando ao telefone, vi um senhor de seus quase 80 anos de idade, cabelos pintados de acaju dentro de um terno alinhado. Andava com dificuldade e tinha os olhos bem abertos, muito atentos a tudo o que acontecia. Me lançou um olhar de cumplicidade por estarmos ambos sofrendo naquele calor senegalês e de terno. A diferença entre nós é que eu já havia sacado a gravata e a colocado dentro do bolso. Mas aquele senhor não.

Aliás, essa foi uma das cenas a que me refiro no título. A gravata dele era simplesmente inacreditável. Era de um vermelho vivo, com borrões pretos e cinzas e embaixo, um desenho enorme do Ligeirinho. Para quem tem menos de 30, Ligeirinho, ou Speedy Gonzalez, o simpático ratinho da foto aí de cima, era um personagem de desenho animado. Vivia sendo perseguido por seus inimigos e usava sua velocidade para escapar. Usava um sombrero amarelo enorme e um lenço vermelho no pescoço. Uma figura!

Fiquei pensando o que leva um distinto senhor de terno a usar uma gravata tão espalhafatosa assim. Resposta? Copacabana. Ainda bem que a minha estava no bolso, pois tinham vários ursinhos deitados em redes penduradas em coqueiros. Obviamente que o desenho era mínimo, ao estilo de gravata italiana. Aliás, a gravata é italiana. Aliás, esse é o charme da gravata italiana: desenhos bem humorados que só podem ser apreciados bem de perto. E só quem chega bem perto da gente é quem queremos, né?

Depois da volta ao passado com Speedy Gonzalez, levei um baita susto ao ouvir uns berros fortes masculinos. Eram gritos de discussão, de briga. Logo pensei em assalto, tiros. Logo lembrei-me de Almir Pernambuquinho, um dos grandes heróis que a Gávea teve. Na final do campeonato carioca de 1966, ano em que nasci, o Mengão ia perdendo o título para o Bangu (é, o Bangu...) por 3 X 0, quando Almir deflagrou uma pancadaria sem precedentes dentro de campo. Seu objetivo era impedir o aumento da goleada e a volta olímpica do time da Zona Oeste. Conseguiu. O juiz expulsou 5 do Fla e 4 do Bangu e teve que encerrar a partida. Foi o último título do Bangu.

Dono de um temperamento fortíssimo e explosivo, Pernambuquinho foi assassinado em um bar dentro da Galeria Alaska em Copacabana em 1973. "Assassinado em um bar dentro da Galeria Alaska." Existe alguma frase que remeta mais ao submundo carioca que essa? Estaria eu prestes a participar, involuntariamente, de uma confusão dessas? Não, não estava. Era apenas uma academia de boxe na sobre loja de um prédio, onde o professor incentivava seu aluno a golpear duramente um saco preto. Coitado do saco.
Ah, a piada sobre a Portuguesa: Diz a lenda que após a conclusão da construção do estádio do Canindé, da Portuguesa, um trator desapareceu misteriosamente. Ele teria sido esquecido em pleno gramado e todas as arquibancadas e muros já estavam prontos. Como tirar aquele bicho enorme lá de dentro? Simples, ora pois pois... Enterraram no centro do gramado.

Comentários

Anônimo disse…
Xandão,

O que seria de Copa se não existisse o Cervantes?? Muito bom o texto e a lembrança do ratinho que só perde para o Mickey em admiração.
Abçs
Alexaaaandderrr
Unknown disse…
SENSACIONAL !

bjs, Vv.

Postagens mais visitadas deste blog

Ler jornal

Esplanada Grill

O namorado cavalheiro.